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N​ã​o s​ã​o as unhas que me roem

by Llama Virgem

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1.
A pobreza humilha E vende-se barato Pega na honra Mete-a no saco O meu bairro Está descaracterizado Tem lojas gourmet Por todo o lado Taquicardia da empresa Uma colher de sopa À sobremesa Oresteia descontextualizada Sobram as moscas Ou não sobra nada Projectos autónomos De tirania Soberba sorte De Nascer o dia Publicidade no estendal As rédeas do capital É caridade Empreendimento Sobram os trocos Para o sustento Vives a meias Com a pressão O senhorio é um cabrão Se perco tudo no euromilhões Terça e sexta sem excepções Voto no gajo Que fala a verdade Sou contribuinte Desde tenra idade Idiossincrasia generalizada Esta cidade foi tomada Vende o terço e o retrato Ali ao lado do colonato Os anos passam E não passa nada Deixam-te as pedras da calçada Fecha a porta E deita fora a chave O último que apague a luz Pague as contas E a saudade E usufrua Desta cidade Capital Lisboa Manda abaixo e faz de novo Como o Marquês de Pombal Como o Marquês de Pombal
2.
Somos extra ordinários Enormes esse cê gigantes Singulares desnorteados Quando toca a emoção Emotivos somos extra Emotivos ordinários Reluzentes, somos tudo Gambuzinos nocturnos Caçadores e caçados Tudo. Conforme a oportunidade O tópico A eleição O ódio de estimação Somos excepcionais Provas cabais da peneira Evolucionária Germe gente E pessoas de bem Conforme o dia A disposição E o alarve no palanque Somos inertes Penedos extraordinários Calhaus sem pinga de empatia E eternos comovidos com o Fado marialva, Fado alexandrino, Fado corridinho, fado calado Que se vai cantar o fado Misericordiosos castradores Santíssimas matronas Conforme sopra o vento Somos tão exclusivos Temos palavras únicas Um panteão repleto De cadáveres Excelentíssimos Uma toponímia invejável Repleta de heróis Almirantes bispos engenheiros Exmos. corsários e ilustres Carniceiros Gente grande Uns com estátuas outros sem E dois poços aqui ao pé Para enterrar os gentios Somos extra ordinários Adoramos a prioridade As filas O faça favor Exceptuando aos dos bairros Nunca perdoamos a edificação Lata é lata E a lata Varre-se. No entanto Invejamos a pobreza O rendimento mínimo Os bifes à mesa Fome é fome Trata-se com cabazes Somos tão extraordinários Que agonia Bílis nos cantos da boca Engolido num trago E siga Somos intra ordinários Tudo a gamar mas todos polidos Incorruptíveis Que gostam de gente íntegra Que abre portas Facilitadores supremos E incautos que não dão pelo frete. Ó Mar salgado, Lágrimas e tripas cagadas Mitos fundadores e castelos em barda Colonos humanistas Esclavagistas decentes Gente de bem Esta ordinária Gente.
3.
E ninguém saía E se ninguém fosse trabalhar Fizessem um manguito Puxavam as mantas E ficavam Lentamente a ruminar Ou a foder Serenamente nas camas Sem pagar Saíam à rua para roubar Faziam Puxadas Pirateadas No jeito de desenrascar Pediam ajuda Uns aos outros Espantavam a polícia Paralelo a paralelo A voar Plantavam tomates Coziam pão Liam um livro E não iam trabalhar Nem estudar Estavam Só isso. Belos desgrenhados seriam Desenhavam nas fachadas Impropérios delirantes Mandavam-os cagar Fossem ver se chovia Se a fila estava longa Se a quarentena já passou Se podem soltar o avô E começar a pagar A linha de crédito bonificado Já se habituaram ao silêncio à palmadinha nas costas E lavavam as mãos quando queriam Com a água da chuva Quando chovia À noite cantavam coisas Que todos ouviam Umas bonitas Outras feias Iam de pijama à porta E diziam: "Ainda não Deixa-os penar Mundo fodido Quando não tens a quem explorar " E ninguém saía Quase ninguém Ninguém Ninguém saía Quase ninguém Fecharam as fábricas e fecharam tudo Mas ninguém saía Ninguém saía de casa E um gajo vivia uma normalidade inconstante E um gajo tentou saltar da janela Porque ninguém saía Ninguém podia, Nem sair Nem pensar, E ficava tudo normal Normal “Vai ficar tudo bem” Tá-se bem Quase ninguém Quase ninguém saía Ninguém saía
4.
ORNE 04:06
Estar em tal pressa Embuçar o rosto Abismar os dias No cálculo das horas O temor emparedado A casa feita Como um órgão falido Com manchas profundas Que a faca não alcança Vulgaridades... São pequenos nichos Fora da esfera de convivência De sua excelência Certamente A falha cresce Como um ponto no dente Que se sente com agonia Como se um sádico caprichasse Na tua boca Não passa nada Luso tropicalismo pioneiro Joelho sobre a cabeça Bastão no lombo “Não se fica cruel por se ser carrasco, vai-se para carrasco por se ser cruel” De onde veio isto tudo? Sou capaz de ter uma ideia Uma impressão Como o tacão da bota Calcado Nas costas do puto Que atirou a primeira pedra Começamos assim Numa dormência vespertina E dia após dia Vemos os exemplos Desse idílico país Cheio de bondade Fado-funaná Padres com grinaldas De querubins imberbes E indiozinhos nutridos Com papeira civilizacional Diria que é desse nojo Que nasce o tormento E do tormento que se fazem As tradições As pegas e os andores E o implícito racismo Que não existe E nunca existiu Até te encostarem o joelho à boca.
5.
Morais Soares, é uma artéria da cidade cheia de glóbulos brancos, vermelhos, verdes, ali, na continuação da Praça do Chile ao Alto de São João, é uma artéria coagulada da cidade a constatação da iminência da necessidade de habitar há casas grandes há casas pequenas e pensões com motivos alegóricos ultramarinos cheias de gente que cai na Morais Soares tudo se vende tudo se compra naquela porta porta sim porta não em direcção à parada do Alto de São João na Morais Soares em cada esquina um amigo em cada rosto ansiedade na Morais Soares no passo apressado dos casais de toxicómanos a descer a Morais Soares ao saco de legumes do Pali Baba a descer a Morais Soares é uma artéria ai se eles deitassem a mão a esta artéria em processo de disneyficação na Morais Soares é uma rua que não tem sombras é uma rua que não tem árvores com quatro sentidos, dois para cada lado mas só um a funcionar, e quando olhas do largo de leão para esta grande serpente solar num dia de verão e pensas: estou quase a chegar estou quase em casa na Morais Soares se estas pedras falassem não havia o que não contassem a troco de o que se possa vender na Morais Soares ali na continuação da Praça do Chile ao Alto de São João a necessidade de habitar o espaço a cidade a vida um bairro as grandes alamedas cheias de gente onde os funerais de estado não passam e em que cada partido tenta ir buscar o voto popular, na Morais Soares e nunca dorme e nunca dorme e nunca dorme a artéria da cidade é um coágulo da cidade idealizada um estado pré qualquer coisa Morais Soares em processo de construção em processo de construção. de desabitar

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É na memória e enumeração dos absurdos que se constrói o presságio do mundo. É um exercício doloroso, de indisposição chacal, cinismo de hiena, com passos de grou a caminhar sobre o charco e a calcular o percurso da lança, antes que nos trespasse.

Fica este registo para memória futura.

Todas as músicas foram compostas e executadas por Daniel Antunes Pinheiro (Baixo, Ritmo), Pedro Januário Gomes (Guitarra, loops), Rui Gonçalves (Voz); excepto "Lisboa" que contou com a participação especial da meteórica Sreya.

Gravado em vésperas de fim-do-mundo, entre Fevereiro e Março de 2022 num anacrónico gravador de quatro pistas em cassete no estúdio da Associação Goela, mixado por Daniel Antunes Pinheiro e masterizado por Sara Braz Ferreira no estúdio da Palavra.

As ilustrações e fotos do livro são da autoria de: Sreya, Rita Grancho, Nuno Gonçalves, Tiago de Sá, Ivo Relveiro, Llama Virgem, Marco Pestana, Pedro Carinhas, Salomé Paiva e Gonssalo.

credits

released May 7, 2022

Letra e música: R.D.P.
"Lisboa" conta com a participação especial da meteórica Sreya @sreya.bandcamp.com
Produção, gravação e mixagem: Daniel Antunes Pinheiro
Masterização: Sara Braz Ferreira (A Palavra)
Capa: Pedro Freitas (A Palavra)

Gravado no estúdio da Goela em Lisboa

Editado pela Coleção Batimento, Ed. Cidade Nua / A Palavra

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Llama Virgem Lisbon, Portugal

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